domingo, 23 de setembro de 2012

LIVRO: O PRÍNCIPE - NICOLAU MAQUIAVEL

Toda ação é designada em termos do fim que se procura atingir.
O Príncipe é dirigido a um príncipe que esteja governando um Estado, e o aconselha sobre como manter seu governo da forma mais eficiente possível. Essa eficiência é a ciência política de Maquiavel.
Começa descrevendo os diferentes tipos de Estado e como cada tipo afeta a forma de governo do príncipe. Também ensina como um príncipe pode conquistar um Estado e manter o domínio sobre ele. Ex: Principados hereditários, por já estarem afeiçoados a família do príncipe é mais fácil de mantê-los.
O difícil é manter os principados novos que na verdade não são novos, e sim mistos por terem sido incorporados a um Estado hereditário.
Consideram-se inimigos do príncipe todas as pessoas que se sentiram ofendidas com a ocupação do principado.
Maquiavel apresenta os problemas e as dificuldades, e isso tudo é demonstrado de uma forma que parece não haver solução. Porém, logo em seguida ele apresenta não só a solução para os problemas como também conselhos, os quais o governante deve seguir se quiser ser bem sucedido.
Se um príncipe anexa um Estado a outro mais antigo, e sendo este da mesma província e da mesma língua, ele será facilmente conquistado. Porém, para mantê-lo deve-se extinguir o sangue do antigo governante e não alterar as leis nem os impostos. Agindo dessa forma, em pouco tempo está feita a união ao antigo Estado.
Também numa província diferente por línguas, costumes e leis, faça-se o príncipe de chefe e defensor dos mais fracos, e trate de enfraquecer os poderosos da própria província, e de salvaguardar-se para que não entre um estrangeiro tão poderoso quanto ele.
Maquiavel afirma que quando se utiliza as colônias, os únicos prejudicados serão aqueles que perderem suas terras, mas estes sendo minoria não poderão prejudicar o príncipe, ou seja, o meio utilizado para se fazer as colônias pode até não ser o mais correto, mas se o fim for bom, o meio foi justificado.
Um outro ponto interessante é quando o autor diz que o príncipe deve se fazer defensor dos mais fracos. O que na verdade ocorre hoje em dia, pois muitos políticos se utilizam dessa tática para conquistar a confiança do povo e conseguir mais votos.
Outro detalhe muito importante que pode ser percebido no decorrer de toda obra são os exemplos históricos. Maquiavel fundamenta toda a sua teoria na história dos grandes homens e dos grandes feitos do passado, afirma que um príncipe deve seguir os passos desses homens poderosos, que alguma coisa sempre se aproveita.
O aspecto marcante de sua obra é quando são tratados os meios de se tornar príncipe, que podem ser dois: pelo valor ou pela fortuna. Entretanto ele adverte que aqueles que se tornaram príncipes pela fortuna tem muita dificuldade para se manter no poder. Porém, a fortuna e o valor não são as únicas formas de se tornar príncipe. Existem outras duas: pela maldade e por mercê do favor de seus conterrâneos.
É melhor ser amado ou temido?
A resposta de Maquiavel é que o melhor é ser as duas coisas, mas como é difícil reunir ao mesmo tempo essas duas qualidades, é muito melhor ser temido do que amado, quando se tenha que falhar numa das duas.
Há na obra um esboço de sugestão de que o novo príncipe terá chegado ao poder, devido a uma conjugação do destino com o próprio valor e de que, para conservar o controle, ele será obrigado a agir com grande sutileza e mesmo com astúcia e crueldade.
No capítulo inicial de O Príncipe, Maquiavel postula haver duas principais vias pelas quais se adquire um principado: pelo exercício da virtú ou pelo dom da fortuna. Algumas figuras maquiavélicas Moisés, Ciro e Rômulo "criaram grandes e duradouras instituições", devido à virtú. Já a decadência de Cesare Borgia foi decorrente da fortuna que o abandonou.
Por intermédio de uma história comparada, Maquiavel conclui que apenas por meio da virtú um príncipe pode vencer a instabilidade da fortuna e assim conservar seu estado.
A um príncipe pouco devem importar as considerações se é amado pelo povo, mas, quando este é seu inimigo e o odeia, deve temer tudo e a todos.

LIVRO: Ensaio sobre a cegueira - José Saramago

“Um motorista, parado no sinal, subitamente se descobre cego. É o primeiro caso de uma ‘treva branca’ que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos vão se descobrir reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas”.

O que você faria se subtamente se descobrisse cego? E se isso acontecesse no meio da rua, entre dezenas e dezenas de pessoas desconhecidas ...
passando ao seu redor e sem que você tivesse uma plena consciência das ruas, dos automóveis, das calçadas ou de qualquer obstáculo que poderia aparecer ao longo do seu caminho? E o pior de tudo é imaginar que tudo teria acontecido sem mais nem menos, ou seja, sem que qualquer sintoma anterior tivesse lhe alertado da possibilidade da cegueira...

Essa é a premissa inicial de um livro que se intitula ensaio, que é sem dúvida um grande romance e que tem toda uma aparência de fábula moderna. Não apenas um conto do qual extraímos lições, a partir do qual, também se estabelece uma moral, mas uma história que nos deixa aturdidos diante do rumo tomado na vida das personagens ao longo da qual a trama se desenrola.

O mais interessante é que não há nomes. Nenhum dos protagonistas é identificado como sendo João, Maria, José, Pedro, Ana ou qualquer nome regularmente utilizado em países de Língua Portuguesa. Cada um desses homens e mulheres que encabeçam a história são chamados, peculiarmente, a partir de sua ocupação, do parentesco em relação a outra personagem da história ou ainda a partir de alcunhas relacionadas aos atos por eles praticados ao longo dos capítulos.
"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso”, disse o escritor José Saramago, por ocasião da apresentação pública do livro "Ensaio sobre a cegueira".
Sem qualquer tipo de expectativa quanto ao futuro, a maioria dos ceguetas passa o dia deitado nas camas e colchões disponíveis para suas acomodações. Sem qualquer tipo de prática na vida de cego, as pessoas encarceradas nessa prisão provisória da claridade excessiva e dos muros dos locais onde passaram a viver não conseguem se deslocar com agilidade de um lado para outro, deixam de urinar ou defecar nos locais apropriados, tornam o ar ao seu redor totalmente putrefato, não tomam banho regularmente, deixam de lavar as mãos ou de se barbear...

Passa a imperar entre eles uma vida totalmente desregrada, de muita sujeira, onde os mais fortes passam a impor sua voz, onde a razão, a lógica, a sensibilidade e a noção de direitos foi totalmente implodida em favor da sobrevivência.

Homens e mulheres abrem mão de conquistas que foram almejadas pela humanidade ao longo de séculos. Ninguém se atreve a contestar a lei da selva que se estabelece. Os poucos que ousam levantar sua voz são silenciados com brutalidade, seja pelos que vivem fora dos limites desse mundo ou ainda por aqueles que entram nesse mundo armados de ferramentas que os colocam em vantagem nas disputas ali travadas.

 Chegamos ao limiar da insanidade e próximos do limbo quando o autoritarismo se impõe como forma de governo dentro do manicômio. Instala-se não somente a ditadura dos mais fortes, mas também a ordem passa a parecer muito próxima a do próprio local onde estão muitas dessas pessoas estão cada vez mais dentro do universo da loucura, estabelecidos com os cegos num verdadeiro hospício. Vale a pena ler, pois há uma relação intrínseca com a nossa vivência em sociedade.